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Segunda-feira (é quando escrevo), feriado como muitos outros, com a diferença nada sutil de que este feriadão se parece com boa parte dos dias vividos pela maioria de nós desde a metade do mês de março, por força do necessário distanciamento social. O bom é que estamos vivos para celebrar - quem crê, naturalmente - Nossa Senhora da Conceição Aparecida, padroeira deste laico e dividido Brasil, madona cuja origem remonta aos tempos coloniais, e as crianças de hoje, esperanças vivas da possibilidade de construção do futuro.
Passou a feira do livro, extemporânea e estranha, se considerarmos seu período normal de realização e seu formato tradicional, trazendo para nossos espíritos inquietos mais indagações do que respostas, mais dúvidas, penso, do que certezas. Mas foi a feira possível, a feira que poderíamos realizar sem comprometimento das regras sanitário impostas pela Covid-19.
Obviamente, aqueles, como eu, que veem na Feira, nosso maior evento cultural e oportunidade inexcedível de celebração do livro e da leitura, pela possibilidade de contato direto entre leitores, autores e livreiros, certamente sentiram enorme falta da Praça Saldanha Marinho transformada, por duas semanas, em reduto inexpugnável do texto escrito e em palco iluminado de encontros e reencontros, de questionamentos; de trocas de ideias; de instigação do pensamento e da liberdade; de abraços, de sorrisos e de afetos.
Os aspectos positivos do formato diferente da feira, como a capilaridade ampliada resultante das transmissões pelas mídias digitais devem ser agregados ao formato, digamos, analógico, tradicional. Mas, não se pode sequer cogitar, em havendo retorno à normalidade pré-pandêmica, da eventual manutenção, com exclusividade, do modelo adotado este ano por força das especialíssimas circunstâncias vividas por todos nós.
Ano que vem, esperamos, entre o final do mês de abril e meados de maio ou pouco mais adiante, voltaremos a nos encontrar no coração da cidade, entre bancas de livros e sorrisos desanuviados, para abraços reconfortantes e debates dobre a escrita e a necessidade de leitura. E todos relembraremos da Feira de 2020, como um ato de resistência de quem - nos variados pontos dessa tecitura - se propôs a manter acesa a paixão pelos livros.
Eu, particularmente, sinto-me feliz por participar outra vez da Feira do Livro (da qual já tive a honra de ser patrono) como autor e lançar, com meus confrades da Turma do Café, mais uma obra, que, fosse lançada na forma tradicional, não tenho dúvida (não é falta de modéstia, mas constatação baseada nas edições anteriores), seria um dos livros mais vendidos da feira. O lançamento do livro de contos Ano Passado Eu Morri (histórias de quando havia galos noites e quintais) é o testemunho da esperança que nos anima e nos impulsiona a seguir em frente, malgrado as pestes e pandemias, inclusive as metafóricas, que tentam nos calar.